sábado, 4 de janeiro de 2014

Informação sobre o Exame Final Nacional de Filosofia (2014)


No passado dia 19 de dezembro foi tornada pública a informação oficial do IAVE sobre o exame de Filosofia. Este documento é fundamental para preparar o exame porque dá ao aluno uma ideia muito precisa dos conteúdos, do tipo de perguntas, das cotações e da estrutura do exame. Estas informações são este ano ainda mais importantes uma vez que não haverá teste intermédio de Filosofia. 
A informação sobre o exame pode ser consultada aqui

Este ano, o exame de Filosofia, que tem o código 714, terá lugar nestas datas:
  • 1ª fase: 17 de junho, 9:30 h
  • 2ª fase: 17 de julho, 9:30 h

Voltaremos a este assunto brevemente.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Oxford e Colin McGinn, por Ana Bernardes.


Oxford e Colin McGinn

por 

Ana Bernardes

Oxford fica a menos de uma hora de comboio de Londres (97km) e é fácil ir a pé da estação ao centro da cidade onde se encontram os seus seculares colégios universitários. A cidade pode parecer pequena a quem chega pela primeira vez, e se for em agosto, muito tranquila, por comparação com a agitação londrina. Um sol sempre ténue aclara o cinzento das fachadas de pedra e o verde dos amplos espaços relvados, as ruas estreitas com pouco trânsito, cheias de pequenas livrarias, lojas de porcelanas e salões de chá, dão-lhe um encanto muito acolhedor.
Mas toda a atmosfera é marcada pela imponência da sua universidade, na qual se formaram ou ensinaram, desde o século XIII, alguns dos melhores pensadores da cultura ocidental, muitos deles, filósofos.
No final desse século, Paris e Oxford eram como que dois campus de uma mesma universidade, a recuperação da obra de Aristóteles, que tanto enriqueceu e inquietou o pensamento dos mestres da filosofia latina, fez florescer a lógica formal e a metafísica. Por volta de 1320, Oxford estabeleceu-se como um centro independente usurpando a Paris a hegemonia da escolástica europeia. Grande parte do trabalho filosófico consistia no ensino da lógica e na problematização de questões metafísicas.
Séculos depois, no período pós guerra, Oxford terá sido ainda o centro mundial da filosofia. E foi esta cidade que atraiu Colin McGinn, um dos mais importantes filósofos da atualidade, quando, em 1972, após a sua licenciatura com nota máxima em Psicologia, começou a sentir o apelo irresistível da Filosofia. Oxford seria na época, tinha ouvido dizer, o melhor sítio de Inglaterra para se estudar Filosofia.
Na sua obra Como Se Faz Um Filósofo, McGinn descreve, numa narrativa autobiográfica cativante, o intenso percurso de treino filosófico pelo qual passou até ser admitido no curso de pós graduação para os licenciados mais distintos na área e a honrosa conquista do prestigiante Prémio John Locke, que lhe permitiu passar a ser um profissional da filosofia, como tanto desejava. Pelas memórias do então jovem aluno e depois professor, fascinado por Oxford aos vinte e três anos, entramos no ambiente dessa época mais recente: nos colégios antigos, com os seus jardins tratados e as suas torres, um corpo docente dinâmico de setenta catedráticos de Filosofia, uma lista de centenas de aulas à escolha, conferências com oradores como Saúl Kripke e Donald Davidson, competições intelectuais sobre lógica e linguagem desde a hora do chá até ao dia seguinte, num dia as aulas do professor Gareth Evans em calças de bombazine e botas rústicas, no outro um grupo de jovens e velhos esgrimas da filosofia vestidos a rigor com os seus subfuscus, (laço e camisa branca, fato negro e chapéu) a caminho dos exames mais conceituados.
Nos dois anos que Mc Ginn viveu em Oxford a Filosofia transformou-se para ele em lógica e linguagem, as primeiras aulas expositivas que deu foram sobre o tópico da verdade. Qual o significado da palavra “verdade”? O que faz uma frase ou crença ser verdadeira? Estudava com entusiasmo as teorias davidsonianas, e os problemas que elas enfrentavam, fascinado por esse modo técnico de fazer Filosofia, acreditando resolver a obscura questão «o que é o significado?» e transformar a filosofia em ciência, promessa de ultrapassar outros impasses como o livre arbítrio ou a consciência. Mas essa esperança estava muito longe de ser satisfeita.
Mc Ginn vive atualmente nos Estados Unidos, já escreveu dezenas de livros, muitos sobre filosofia da mente e um deles, pelo menos, foi publicado em Portugal pela editora Gradiva, O Caráter da Mente, onde apresenta uma tese sobre a questão da consciência, o naturalismo transcendental, na qual defende que o problema do conhecimento da consciência é insolúvel para nós, não porque a consciência seja mágica, irredutível ou não existente, mas devido às nossas limitações conceptuais. Mas porque não é a solução para o problema mente – corpo adequada aos nossos sistemas cognitivos? O que nos impede de forma tão sistemática de apreender “a propriedade explicativa P”?
Em Oxford há uma rua com o nome de Rua da Lógica, o que ele achava “o máximo do fixe filosófico”.
Mac Ginn ainda acha que qualquer filósofo profissional deve ter um bom domínio da lógica mas deixou de acreditar que só com ela possamos resolver problemas filosóficos sérios. E nesse sentido, não acredita que a filosofia possa ser uma ciência.
A lógica não lhe permitirá alcançar uma verdade conclusiva sobre a consciência mas abre a possibilidade de identificar erros nos seus próprios raciocínios, de avaliar melhor o que o que se pode concluir a partir das suas hipóteses explicativas e revê-las continuadamente na procura de outras melhores. É disso que se faz a filosofia, em Oxford como em qualquer outro mundo possível.

Nota: Este texto da professora Ana Bernardes foi escrito no âmbito do Dia Mundial da Filosofia de 2011. Pela sua qualidade e pelo elogio que nele existe ao fascinante mundo da filosofia, pareceu-nos uma excelente escolha para assinalar o facto do grupo 410 retomar a actividade deste blogue.